Aumento recorde do uso de agrotóxicos causa preocupação com saúde
Aumento recorde do uso de agrotóxicos liberados causa preocupação com saúde pública e ecossistemas.
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro liberou 2.182 agrotóxicos entre 2019 e 2022, o maior número de registros para uma gestão presidencial desde 2003. Desses, 98 são inéditos e 366 são biológicos, ou seja, têm baixo impacto sobre o meio ambiente.
Somente no ano de 2022, o governo Bolsonaro aprovou 98 produtos inéditos, um recorde da série histórica do Ministério da Agricultura. Segundo uma fonte do ministério, esse alto número de liberações está relacionado a uma reorganização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2016, que incluiu a atração de servidores de outras áreas para o setor de agrotóxicos, visando acelerar as análises.
Já no início do governo Lula, em janeiro de 2023, o novo governo aprovou 4 produtos.
Impactos dos agrotóxicos na saúde pública e ecossistemas
Os principais impactos ambientais e de saúde pública causados pelo aumento no uso de agrotóxicos são preocupantes.
Em relação aos danos ambientais, há a contaminação de solos, lençóis freáticos e cursos d’água devido à lixiviação e escoamento superficial dos agrotóxicos. Isso leva à redução da biodiversidade e desequilíbrio nos ecossistemas, prejudicando insetos, polinizadores, a fauna aquática e outros organismos. Ainda, ocorre a bioacumulação e biomagnificação dos resíduos na cadeia alimentar, afetando a vida selvagem. Outro problema é a poluição do ar por meio da pulverização aérea e da volatilização dos produtos químicos.
Já os impactos na saúde pública são igualmente graves. Há registros de intoxicações agudas e crônicas de trabalhadores rurais e populações expostas aos agrotóxicos. Ademais, a exposição pode levar ao desenvolvimento de doenças relacionadas, como alguns tipos de câncer, malformações congênitas, distúrbios hormonais e problemas neurológicos.
Além disso, outro risco é a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, representando riscos à saúde dos consumidores, e ainda há o comprometimento da qualidade da água para consumo humano e irrigação.
Esses impactos negativos demonstram a necessidade urgente de maior regulação e controle do uso de agrotóxicos, bem como o incentivo a práticas agrícolas mais sustentáveis e menos dependentes desses produtos químicos.
Caso Syngenta
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a União entraram com uma ação civil pública contra a multinacional Syngenta. A ação acusa a empresa de produzir e comercializar agrotóxicos adulterados e ilegais.
Segundo a ação, uma fiscalização realizada pelo Ibama e pelo Ministério da Agricultura em novembro de 2021 encontrou evidências do uso de uma substância cancerígena chamada “bronopol” em níveis quase três vezes superiores à quantidade autorizada na fabricação de alguns inseticidas e pesticidas da Syngenta.
A ação movida pela Advocacia-Geral da União (AGU) na Justiça Federal de São Paulo pede o bloqueio de R$ 90 milhões da empresa, a título de garantia futura de reparação de danos ambientais causados pela produção e comercialização desses agrotóxicos adulterados.
Em resposta, a Syngenta afirmou que apresentou seus argumentos ao juiz, comprovando a inexistência de qualquer risco ou dano ambiental decorrente da situação descrita. A empresa alega que os próprios órgãos responsáveis, como o Ministério da Agricultura, Anvisa e o próprio Ibama, já haviam aprovado a nova formulação do produto “Engeo Pleno”, considerando os níveis de “bronopol” encontrados.
A Syngenta questiona o “movimento destoante da AGU”, considerando o diálogo anterior com o Ibama que resultou em uma conciliação formal endossada pelo órgão.