Black Friday de 2024 no Brasil: Papel higiênico ao invés de TV
A Black Friday de 2024 no Brasil foi marcada por resultados que, embora sólidos em termos de movimentação financeira, expuseram desafios enfrentados pelos consumidores e pelo varejo em um cenário de alta inflação e mudanças nos padrões de consumo. O evento, que projetava movimentar cerca de R$ 5,22 bilhões, apresentou um crescimento tímido de 0,4% em relação a 2023, refletindo o impacto do orçamento apertado e do aumento de preços em produtos-chave do mercado.
Apesar das expectativas iniciais de descontos significativos, a realidade foi bem diferente para diversos itens. Produtos como smartphones e notebooks, tradicionalmente populares, registraram aumentos de preço que chegaram a 9,8% durante o evento. Enquanto isso, itens essenciais como eletrodomésticos e produtos de cozinha apresentaram descontos mínimos, muitas vezes abaixo de 3%. Essa discrepância entre a expectativa de economia e os preços reais frustraram consumidores e levantaram dúvidas sobre a autenticidade das promoções anunciadas.
Outro aspecto relevante foi o prolongamento do período promocional, com campanhas de “Black November” e “Black Week”, que diluíram o impacto das vendas concentradas na sexta-feira. Essa estratégia, adotada por varejistas para aumentar o volume de vendas ao longo do mês, também dificultou para os consumidores identificarem as melhores ofertas. Dados revelam que as categorias mais buscadas incluíram celulares, móveis, calçados e alimentos, uma indicação de que muitos consumidores priorizaram produtos básicos e de necessidade imediata.
Apesar disso, os dados do Google Trends apontam uma diminuição expressiva no interesse pelo terno Black Friday na internet. Essa queda na curva fica nítida quando comparada 2024 com o mesmo período em 2023.
Troca por itens de consumo básico
Além disso, a alta taxa de inflação fez da Black Friday uma oportunidade para muitas famílias comprarem alimentos e outros itens de supermercado, como papel higiênico, com descontos. Isso é algo que não é tradicionalmente associado ao evento. O fenômeno reforça como a economia doméstica está moldando as prioridades de consumo, deslocando o foco de itens de luxo e tecnologia para produtos essenciais.
Por outro lado, o comércio eletrônico continuou a se destacar, com o aumento das buscas por produtos específicos como notebooks gamers e televisores de alta definição. No entanto, a confiabilidade das promoções foi questionada, com o Procon-SP alertando para golpes e preços inflados que voltaram ao normal durante o evento para simular descontos. Consumidores mais atentos recorreram a plataformas de comparação de preços para evitar as chamadas promoções “metade do dobro”.
A Black Friday de 2024, portanto, não apenas revelou um momento de transformação nos hábitos de consumo no Brasil, mas também destacou a necessidade de maior transparência no varejo e educação financeira para os consumidores poderem aproveitar melhor as oportunidades reais de economia.