Agronegócio: dependência de commodities e a negligência da industrialização
O agronegócio brasileiro é frequentemente exaltado como um dos pilares da economia nacional, especialmente pelo papel de destaque na produção e exportação de commodities, como soja, milho e carne bovina. No entanto, essa estratégia tem exposto fragilidades significativas na estrutura econômica das regiões que dependem exclusivamente desse modelo, com impactos que podem se agravar em cenários de mudanças estruturais. Um desses cenários seria uma redução da carga horária proposta pela PEC da escala 4×3, que vem sendo chamada equivocadamente de fim da escala 6×1.
A forte ênfase na produção de commodities, embora impulsione exportações e gere superávites comerciais, mantém o país em um modelo econômico de baixo valor agregado. Alimentos e matérias-primas saem do Brasil em estado bruto para serem processados em outros países, que, por sua vez, capturam a maior parte do valor final dos produtos. Isso não apenas limita o potencial de crescimento econômico, como também perpétua uma dependência de mercados externos e de variações de preços no cenário global.
A negligência com a industrialização no agronegócio é um reflexo desse modelo. Regiões produtoras muitas vezes carecem de parques industriais capazes de agregar valor às matérias-primas. Um exemplo claro é a exportação de soja: enquanto o Brasil lidera em volume, países como China e Estados Unidos dominam a produção de derivados, como óleo e farelo de soja, que possuem maior valor de mercado.
Impactos de uma jornada reduzida no agronegócio
A proposta da escala 4×3 pode agravar os desafios do setor. A redução da carga horária afeta diretamente a cadeia produtiva, principalmente em períodos críticos, como o plantio e a colheita, onde a disponibilidade de mão de obra é essencial. Mecanizar pode ajudar em alguns casos, mas muitos processos, especialmente no setor de alimentos perecíveis, ainda dependem fortemente de trabalho humano.
Além disso, o agronegócio brasileiro opera em um cenário de infraestrutura limitada e altos custos logísticos. Com menos horas trabalhadas, o transporte e o armazenamento de alimentos, que já são gargalos críticos, podem sofrer atrasos que comprometem a qualidade e a competitividade no mercado internacional.
A necessidade de diversificar e industrializar
Para reduzir as vulnerabilidades do modelo atual, é fundamental que o agronegócio invista em industrialização local e diversificação de sua base produtiva. Em vez de apenas exportar grãos ou carnes in natura, o Brasil poderia ampliar sua participação em segmentos de maior valor agregado, como alimentos processados, biocombustíveis e insumos agrícolas.
A industrialização não apenas cria empregos de maior qualificação, mas também reduz a dependência das oscilações do mercado de commodities. Além disso, fortalecer a cadeia produtiva local promove maior estabilidade econômica nas regiões agrícolas, mitigando os impactos de mudanças na legislação trabalhista, como a redução da jornada semanal.
O agronegócio brasileiro tem potencial para ir além de ser o “celeiro do mundo”. Com investimentos em tecnologia, inovação e industrialização, o setor pode se consolidar como uma força global em produtos de alto valor agregado, reduzindo a fragilidade de depender exclusivamente das commodities.