
A inadimplência no agronegócio brasileiro apresenta um crescimento significativo, impactando fortemente as instituições financeiras, especialmente o Banco do Brasil (BB). Este banco detém cerca de 50% do crédito rural no país e, no segundo trimestre de 2025, registrou uma taxa de inadimplência recorde de 3,49%. Esse número representa um aumento em comparação aos 3,04% do trimestre anterior e aos 1,32% do mesmo período em 2024. Consequentemente, essa situação contribuiu para uma queda de 60% no lucro líquido ajustado, que caiu para R$ 3,78 bilhões.
Fatores que Contribuem para o Aumento da Inadimplência
Existem vários fatores que explicam o aumento da inadimplência no setor. Primeiro, a queda nos preços das commodities pressionou as margens dos produtores, especialmente nas culturas de soja, milho e na pecuária, concentradas nas regiões Centro-Oeste e Sul. Além disso, a alta alavancagem é um problema significativo; muitos produtores tomaram crédito em 2020 e 2021, quando a Selic estava em níveis históricos baixos, mas agora enfrentam dificuldades devido à alta atual da Selic, que está em 15%.
Outro fator a ser considerado são os eventos climáticos extremos. Secas e enchentes impactaram as safras, como ocorreu no Rio Grande do Sul, aumentando o endividamento dos produtores. Além disso, as recuperações judiciais (RJs) também têm sido uma preocupação crescente. Em 2024, foram registrados 1.272 pedidos de RJ no setor agro, com um aumento de 45% nos três primeiros meses de 2025. O BB, por sua vez, relatou 808 clientes em RJ, com uma carteira de R$ 5,4 bilhões.
Por fim, a nova regra do Banco Central (Resolução 4.966) impõe a exigência de provisões para perdas esperadas. Isso elevou as reservas do BB para R$ 17,4 bilhões no segundo trimestre de 2025, impactando ainda mais os lucros da instituição.
Impacto em Outras Instituições Financeiras
Além do Banco do Brasil, outros bancos, como a Caixa Econômica Federal, que apresentou uma inadimplência de 3,35% no terceiro trimestre de 2024, e cooperativas como o Sicredi, também enfrentam um aumento nos atrasos. Em contraste, bancos privados como Itaú, Bradesco e Santander sofrem menos devido à sua menor exposição ao setor agro.
Medidas Adotadas pelo Banco do Brasil
Diante desse cenário desafiador, o Banco do Brasil está implementando diversas medidas. Uma delas é a troca de garantias, facilitando a alienação fiduciária, tornando o processo mais eficaz. Além disso, há um fortalecimento da cobrança, com um aumento nas ações de cobrança e judicialização. Outra ação importante foi a redução de recursos no Plano Safra 2024/2025, que caiu para R$ 230 bilhões, em comparação aos R$ 260 bilhões do ano anterior.
Perspectivas Futuras
Apesar do panorama adverso, há projeções otimistas para o setor. Espera-se uma safra recorde em 2025, o que pode ajudar a aliviar a inadimplência no segundo semestre. A CEO do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, acredita que novas estratégias de cobrança podem resultar em melhorias significativas em 2026.
Por outro lado, especialistas apontam que a falta de um seguro rural robusto agrava ainda mais a situação. O orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) foi reduzido para R$ 601 milhões em 2025, um valor considerado insuficiente para cobrir os riscos climáticos enfrentados pelos produtores.