Judia e Mulher, México marca história no momento político atual do país.
O México fez história ao eleger seu primeiro presidente judeu no final de semana passado. Essa é uma vitória notável, em um país com uma das maiores populações católicas do mundo. Além disso, esse marco histórico tem outro acontecimento igualmente significativo: Claudia Sheinbaum, a presidente eleita, será também a primeira mulher a liderar a nação.
Apesar da importância desses fatos, a identidade judaica de Sheinbaum tem recebido relativamente pouca atenção. Com 61 anos, a nova presidente raramente discute abertamente sua herança judaica. Assim, ela transmite uma relação mais distante com o judaísmo do que muitos outros membros da comunidade judaica mexicana. A presença de judeus remonta às origens do país e conta hoje com cerca de 59 mil pessoas em uma população de 130 milhões.
Os pais de Sheinbaum, ambos de esquerda e cientistas, criaram-na em uma família secular na Cidade do México durante as décadas de 1960 e 1970. Essa época foi de considerável agitação política no México. Essa história de migração como descendente de judeus que fugiram para o México no século XX “não dá nenhum capital político” em uma sociedade política onde os candidatos frequentemente enfatizam suas raízes mestiças ou indígenas, observa o especialista Schlosser.
Judia e mulher, fatos não foram ignorados
Apesar de Sheinbaum ter minimizado seus laços com o judaísmo, suas origens não passaram totalmente despercebidas. Assim, revelaram-se correntes de xenofobia e antissemitismo que persistem na política mexicana. Após se destacar como candidata presidencial no ano passado, ela enfrentou ataques de “birther” questionando se ela realmente nasceu no México. Entre os que a atacaram estava o ex-presidente conservador Vicente Fox, que a chamou de “judia búlgara”. Sheinbaum respondeu liberando sua certidão de nascimento, declarando ser “100% mexicana, filha orgulhosa de pais mexicanos”.
Essa controvérsia em torno da identidade de Sheinbaum chamou a atenção para a comunidade judaica do México. A história da comunidade remonta à época da conquista espanhola em 1519. Porém, cresceu consideravelmente no século XX, com muitos judeus tendo suas origens na Síria e em outras regiões do antigo Império Otomano. Apesar dessa presença, o México continua predominantemente cristão, com quase 100 milhões de católicos e 14 milhões de protestantes.
A eleição de Sheinbaum, primeira judia e mulher do país representa, portanto, um momento decisivo não apenas para o México, mas também para a comunidade judaica do país, que agora ganha maior visibilidade e reconhecimento em um cenário político historicamente dominado por outras identidades étnicas e religiosas. À medida que Sheinbaum assume o cargo, os olhos do mundo estarão voltados para essa figura histórica e para as implicações de sua liderança para a diversidade e inclusão no México.