
Fonte: Elaborado com Google Earth
O Estreito de Ormuz entrou no cenário da escalada do conflito Irã-Israel. Com isso, a atenção global se volta para as repercussões geopolíticas e econômicas, especialmente sob a ótica das potências orientais. A recente intensificação dos embates, com ataques mútuos a instalações estratégicas e declarações incisivas de ambos os lados, reacende o debate sobre a estabilidade no Oriente Médio e a segurança das rotas comerciais vitais. A possibilidade de um fechamento do Estreito de Ormuz, um gargalo crucial para o transporte de petróleo e gás, emerge como um cenário de alto risco, com implicações profundas para a economia global e o equilíbrio de poder internacional.
Escalada da tensão: ataques e retaliações
Os últimos dias foram marcados por uma perigosa escalada nas tensões entre Irã e Israel. Após ataques dos EUA a instalações nucleares em Teerã, Isfahan e Natanz, o Irã respondeu com lançamentos de mísseis balísticos e drones contra cidades israelenses como Tel Aviv, Haifa e Jerusalém. A mídia iraniana classificou os ataques israelenses e dos EUA como “crimes de guerra”, e líderes militares iranianos foram mortos nas ofensivas. Israel, por sua vez, justifica suas ações como uma tentativa de frear o avanço do programa nuclear iraniano, alegando que o Irã já acumulou material suficiente para produzir bombas atômicas.
A retaliação iraniana, embora tenha causado danos menores em comparação com os ataques israelenses, demonstra a capacidade de Teerã de responder militarmente. Especialistas apontam que, apesar do orçamento militar iraniano ser significativamente menor que o de Israel (US$ 8 bilhões contra US$ 34 bilhões, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), o Irã investe em estratégias assimétricas e no desenvolvimento de mísseis e drones. A situação permanece volátil, sem previsão de cessar-fogo, e a comunidade internacional, incluindo a ONU, tem monitorado de perto, mas sem sucesso em mediar um acordo.
O Estreito de Ormuz: um gargalo estratégico sob ameaça
No centro das preocupações globais está o Estreito de Ormuz, uma via marítima de somente 34 km de largura em seu ponto mais estreito, que conecta o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã e ao Mar Arábico. Esta passagem é vital para o comércio global de energia, por onde transitam diariamente cerca de 21 milhões de barris de petróleo e derivados, representando aproximadamente 30% do consumo mundial. Além disso, um terço do gás natural liquefeito (GNL) do planeta também passa por essa hidrovia.
O Irã, em resposta aos ataques americanos a suas instalações nucleares, aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz. Tal medida, se concretizada, teria um impacto devastador no mercado global. A Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos (EIA) classifica a região como “o ponto de estrangulamento de petróleo mais importante do mundo”, dada a ausência de rotas alternativas viáveis para o transporte de petróleo e GNL. Um bloqueio resultaria na disparada dos preços do barril de petróleo e do GNL, gerando choques nos preços de energia e pressionando os mercados globais.
Historicamente, o Estreito de Ormuz tem sido palco de disputas, com os EUA mantendo uma forte presença militar na região para proteger seus interesses e os de seus aliados. A tensão entre Teerã e Washington se acentuou após a retirada dos EUA do acordo nuclear iraniano em 2018, resultando na reimposição de sanções econômicas que afetam a economia iraniana e, por extensão, o cenário global.
A perspectiva oriental: Rússia e China em cena
A escalada do conflito no Oriente Médio tem sido acompanhada de perto por potências orientais como Rússia e China, que têm adotado uma postura crítica em relação às ações dos Estados Unidos e de Israel. Em uma recente reunião do Conselho de Segurança da ONU, os embaixadores de ambos os países condenaram veementemente os ataques americanos a instalações nucleares iranianas, classificando-os como injustificados e contrários à legislação internacional.
Vasily Nebenzya, representante de Vladimir Putin na ONU, acusou Washington de agir sem considerar os impactos na vida e na saúde de milhares de pessoas na região, e de estar “desinteressado sobre os impactos na vida e na saúde de milhares de pessoas que moram na região”. Ele afirmou que os EUA, ao promoverem os interesses de Israel, estão dispostos a “arriscar a segurança e o bem-estar da humanidade”. A Rússia, juntamente com a China e o Paquistão, planeja apresentar uma resolução de paz para o conflito, buscando um cessar-fogo imediato.
O embaixador chinês, Fu Cong, embora com um tom mais moderado, também criticou os ataques dos EUA e pediu um cessar-fogo imediato, enfatizando que Israel deveria encabeçar essa iniciativa. A mídia estatal russa e chinesa tem consistentemente apresentado a narrativa de que as ações ocidentais são desestabilizadoras e a soberania do Irã está sendo violada. Eles destacam a importância da diplomacia e do diálogo, em contraste com a abordagem militarista que, segundo eles, tem sido adotada pelos EUA e Israel.
Para a Rússia e a China, a instabilidade no Oriente Médio representa uma ameaça aos seus próprios interesses energéticos e de segurança. O fechamento do Estreito de Ormuz, por exemplo, seria “letal para a China”, como avaliado por alguns analistas, devido à sua alta dependência do petróleo que transita por essa rota. Ambas as nações defendem uma solução política para o conflito, que envolva o respeito à soberania dos países e a não-intervenção externa, buscando conter a influência ocidental na região e promover uma ordem multipolar.
Impactos globais e perspectivas futuras
A escalada do conflito Irã-Israel e a ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz representam um risco significativo para a economia global. A disparada dos preços do petróleo e do gás natural teria um efeito cascata, impactando cadeias de suprimentos, elevando custos de produção e transporte, e potencialmente desencadeando uma crise econômica mundial. Países importadores de energia, como muitos na Europa e na Ásia, seriam os mais afetados, enfrentando inflação e desaceleração econômica.
Além dos impactos econômicos, a situação no Oriente Médio pode levar a uma reconfiguração das alianças e do equilíbrio de poder global. A postura da Rússia e da China, que buscam um cessar-fogo e criticam a intervenção ocidental, sinaliza uma crescente polarização e a formação de blocos geopolíticos. A possibilidade de uma guerra regional mais ampla, envolvendo outras potências e grupos armados, não pode ser descartada, o que agravaria ainda mais a crise humanitária e de segurança na região.
As perspectivas futuras são incertas. A comunidade internacional continua a apelar por moderação e diálogo, mas as posições rígidas de Irã e Israel, somadas à complexidade das relações com os Estados Unidos, tornam a busca por uma solução diplomática um desafio. A atenção do mundo permanece voltada para o Oriente Médio, na expectativa de que a razão prevaleça sobre a escalada militar e que uma catástrofe econômica e humanitária seja evitada.