Cuba somente aparenta pobreza, sem ser realmente pobre?

“Cuba é pobre, mas não é miserável”. Nas últimas semanas, a declaração de Bela Gil tem ganhado ampla repercussão na internet e nos veículos de imprensa. A fala foi proferida pela apresentadora e culinarista em entrevista ao videocast Acessíveis, do portal UOL, em 15 de abril de 2025. Desde então, o comentário viralizou em páginas de notícias e perfis nas redes sociais, suscitando reações de diferentes segmentos da sociedade.

Contexto da declaração

Durante o episódio do videocast Acessíveis, apresentado por Titi Müller e MariMoon, Bela Gil relatou suas impressões após a segunda viagem a Havana, ressaltando o senso de segurança e acolhimento dos cubanos, além da experiência de caminhar pelas ruas sem perceber violência. Ao descrever a dignidade das pessoas, a chef enfatizou que, apesar das limitações econômicas visíveis, a população mantém níveis de convivência e solidariedade que vão além das condições materiais.

Repercussão nas redes sociais

Nas redes sociais, perfis dedicados a debates políticos e culturais repercutiram a frase de maneira polarizada, com usuários aplaudindo a visão humanitária e outros criticando a falta de menção ao regime autoritário e ao embargo norte-americano.

Realidade socioeconômica de Cuba

Segundo o Country Briefing OPHI de outubro de 2024, a taxa de incidência de pobreza multidimensional em Cuba é de somente 0,7%, enquanto 2,7% da população é considerada vulnerável e 0,1% enfrenta pobreza severa, ainda que a intensidade média de privação alcance 38,1%. Ademais, conforme dados do Banco Mundial, o Produto Interno Bruto per capita de Cuba em 2020 foi de US$ 9.605,3, com taxa de desemprego estimada em 1,5% em 2024 e cobertura total de eletricidade para a população. No que tange ao Índice de Desenvolvimento Humano, Cuba registrou 0,764 em 2022, ocupando a 11ª posição entre os países da América Central e do Caribe no ranking de 2023. Apesar das adversidades econômicas, a ilha não figura na lista de países menos desenvolvidos da ONU, atestando sua classificação de nação de rendimento médio-alto segundo critérios internacionais.

Perspectivas e debates

Entretanto, especialistas apontam que as sanções econômicas dos Estados Unidos e a pandemia de COVID-19 agravaram a escassez de alimentos, medicamentos e combustíveis em Cuba, pressionando a qualidade de vida da população. Relatórios como o Country Report 2024 do Bertelsmann Transformation Index indicam que, antes da crise sanitária, entre um quinto e um terço dos cubanos já eram considerados vulneráveis à pobreza, percentual que provavelmente aumentou nos últimos anos. Ademais, protestos recentes contra o governo cubano, realizados em março de 2024, evidenciam o descontentamento de cidadãos diante da inflação e da falta de recursos básicos, trazendo à tona discussões sobre liberdade e direitos humanos.

De forma geral, a recente afirmação de que “Cuba é pobre, mas não é miserável” reacende o debate sobre os indicadores socioeconômicos e as dimensões qualitativas de vida em regimes socialistas, demandando uma análise que vá além de estigmas e clichês. Ainda que os dados evidenciem desafios econômicos severos, a discussão pública revela múltiplas perspectivas sobre dignidade humana, segurança e solidariedade, aspectos que continuam a moldar a imagem da ilha no cenário global.

Deixe uma resposta