CERET: Um Gigante Esportivo e Social em Reforma

CERET, como é mais conhecido o Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador, localizado na zona leste de São Paulo, é muito mais do que um parque; é um polo de lazer, esporte e educação que serve a comunidade há décadas. Com uma vasta área e uma gama diversificada de atividades, o CERET se consolidou como um ponto de encontro e bem-estar para milhares de paulistanos. No entanto, este importante espaço público tem sido palco de recentes reformas que, apesar de prometerem modernização, enfrentam desafios e geram impactos significativos para seus frequentadores e para a cidade.

História e Legado do CERET

A história do CERET remonta a tempos anteriores à própria fundação de São Paulo, quando a área era uma reserva de Mata Atlântica, conhecida como Mata Paula Souza, e já era utilizada por indígenas em busca de água. A transformação para o que conhecemos hoje começou a se desenhar em 1970, impulsionada por uma figura icônica do futebol brasileiro: Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”. Após sua brilhante carreira nos campos, Leônidas dedicou-se a promover o lazer para o trabalhador, atuando no Departamento do Lazer do Trabalhador na Secretaria do Trabalho do Estado de São Paulo. Sua visão e empenho foram cruciais para a criação do CERET.

Em 1970, o então governador de São Paulo, Roberto de Abreu Sodré, desapropriou a área da Mata Paula Souza, e a construção do Parque Estadual dos Trabalhadores (PET) iniciou em 1973. Um marco simbólico da sua inauguração, em 1974, foi a transferência da estátua de Davi, réplica da obra de Michelangelo, que antes adornava a entrada do Estádio do Pacaembu, para o CERET, tornando-se um de seus mais reconhecíveis símbolos.

Estrutura e Serviços Oferecidos

Com uma impressionante área total de 286 mil m², o CERET se destaca por sua infraestrutura completa, projetada para atender a diversas necessidades de esporte, lazer e bem-estar. Entre as principais instalações e atividades disponíveis, encontram-se:

• Esportes: O complexo esportivo inclui 4 campos de futebol, 4 quadras de vôlei, 1 quadra de vôlei de praia, 3 quadras de basquete, 4 quadras poliesportivas, 1 quadra de Beach Soccer, 6 quadras de tênis (sendo 2 de saibro), 1 campo de rugby, 1 pista de atletismo de 400 m, 3 salas de ginástica, 1 sala de boxe e 5 academias ao ar livre. Essas instalações permitem a prática de uma vasta gama de modalidades esportivas, desde as mais populares até as menos convencionais.
• Piscinas: Um dos maiores atrativos do CERET são suas três piscinas, com destaque para uma das maiores piscinas públicas da América Latina, medindo 100 m de comprimento por 50 m de largura. Para usufruir das piscinas, é necessário que os frequentadores obtenham a carteirinha do CERET e apresentem um atestado médico válido, garantindo a segurança e a higiene do local.
• Lazer e Recreação: Além das opções esportivas, o parque oferece uma pista dedicada para caminhada e corrida, um playground adaptado e inclusivo, com brinquedos projetados para crianças com diversas necessidades especiais. Há, também, um espaço Pet (cachorródromo) que inclusive oferece adestramento gratuito aos sábados pela manhã, um salão de jogos e um bosque de leitura para idosos, e áreas designadas para churrasco e piquenique, ideais para confraternizações familiares e entre amigos.
• Outros: O CERET também conta com um Bike Park, com ciclovia e pistas separadas para skates e patins, localizado na entrada, uma alternativa para quem não pode utilizar esses equipamentos no parque. A réplica da escultura de Davi, de Michelangelo, na entrada, é um ponto de referência e um atrativo cultural.

O CERET opera das 6h às 22h de segunda a sexta-feira e das 6h às 20h nos finais de semana e feriados, oferecendo flexibilidade para seus usuários. Sua localização estratégica na Rua Canuto de Abreu, s/n.°, no Tatuapé/Anália Franco, zona leste de São Paulo, facilita o acesso de moradores de diversas regiões da cidade.

As Reformas Recentes: Promessas e Desafios

Atualmente, o CERET passa por um período de reformas que visam modernizar suas instalações e aprimorar a experiência dos usuários. No entanto, o que deveria ser um processo de melhoria contínua tem se transformado em um cenário de incertezas e frustrações. A reforma, orçada em R$ 36 milhões, encontra-se paralisada há mais de três meses, desde 2 de janeiro de 2025, por falta de repasse de verbas por parte da Prefeitura de São Paulo.

A obra, que iniciou em setembro de 2024, tinha um prazo de entrega de 540 dias, ou seja, até março de 2026. Contudo, o Consórcio CERET, responsável pela execução, informou à Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SEME) a interrupção dos trabalhos devido à ausência de recursos financeiros. Dos R$ 36 milhões previstos, somente R$ 2,3 milhões foram pagos até o momento, o que corresponde a menos de 7% do valor total. A SEME justificou o atraso como uma pendência decorrente da transição entre os exercícios orçamentários de 2024 para 2025, prometendo a liberação dos recursos e regularização da situação.

Impactos Sociais, Ambientais e Econômicos da Paralisação

A paralisação das obras no CERET gera uma série de impactos negativos que afetam diretamente a comunidade e o próprio patrimônio público:

Impacto Social

• Restrição de Acesso e Uso: Diversas áreas do parque estão interditadas com tapumes, impedindo que a população utilize plenamente o espaço. A maior piscina da América Latina, por exemplo, permaneceu fechada durante todo o verão, privando os frequentadores de uma das principais atrações do CERET.
• Deterioração de Áreas Essenciais: A área infantil, que já apresentava problemas, piorou consideravelmente, com quase 70% dos brinquedos quebrados e sem condições de uso, representando um risco para as crianças. A área de exercícios para idosos foi removida e não foi substituída, e os banheiros encontram-se em estado precário.
• Insegurança e Frustração: A falta de manutenção e o abandono das obras contribuem para uma sensação de insegurança, especialmente à noite, devido à iluminação deficiente. A comunidade expressa grande frustração e indignação com a situação, sentindo-se enganada pelas promessas de uma reforma milionária que não se concretiza.

Impacto Econômico

• Atraso nos Pagamentos e Custos Adicionais: A falta de repasse de verbas pela prefeitura não somente paralisa a obra, mas também gera incerteza sobre sua conclusão e pode acarretar custos adicionais devido a aditivos contratuais e reajustes. O investimento inicial de R$ 2,3 milhões pode ser considerado um desperdício enquanto a obra permanece estagnada, sem entregar os benefícios esperados à população.

Impacto Ambiental

• Descuido com a Área Verde: Embora não existam detalhes sobre impactos ambientais diretos da paralisação, a deterioração da infraestrutura do parque pode levar a um descuido generalizado com a área verde, acúmulo de lixo e falta de manutenção. A Mata Atlântica original do local, a qual é parte da história do CERET, pode sofrer consequências a longo prazo com a ausência de cuidados adequados. Além disso, poeira de canteiro de obras abandonado afeta a qualidade do ar próximo.

Conclusão

O CERET, um patrimônio de São Paulo com uma rica história e uma infraestrutura vital para a comunidade, enfrenta um momento crítico. As reformas, que deveriam trazer modernidade e melhorias, estão paralisadas, gerando transtornos e frustração para milhares de frequentadores. A situação atual do CERET é um reflexo da burocracia e da falta de planejamento que, muitas vezes, afetam projetos públicos de grande importância social. A expectativa é que a liberação dos recursos prometidos pela prefeitura ocorra o mais breve possível, para que o CERET possa, de fato, cumprir sua missão de oferecer lazer, esporte e educação de qualidade para todos os trabalhadores e suas famílias.