Centros Administrativos: Comparativos de SP e MG

CENTROS ADMINISTRATIVOS

Os centros administrativos estaduais, concebidos para centralizar a gestão pública e otimizar recursos, frequentemente se tornam palco de debates acalorados sobre sua viabilidade financeira e os reais benefícios que proporcionam. Em São Paulo, o projeto do novo Centro Administrativo Campos Elíseos tem gerado intensa polêmica, ecoando as discussões que cercaram a implementação da Cidade Administrativa de Minas Gerais, inaugurada em 2010. Esta reportagem busca traçar um comparativo entre os gastos previstos para o empreendimento paulista e os custos de manutenção do complexo mineiro, oferecendo uma análise aprofundada das cifras e das controvérsias que envolvem essas megaconstruções estatais.

O Centro Administrativo de São Paulo: Um Investimento Bilionário sob Questionamento

O projeto do Centro Administrativo Campos Elíseos, em São Paulo, prevê um investimento total estimado em R$ 5,4 bilhões para obras e reformas. Desse montante, R$ 3,0 bilhões são aportados pelo Estado para custear parte dos “bens reversíveis”. Além disso, o Estado se compromete a pagar uma contraprestação pública mensal de até R$ 69,04 milhões à concessionária por 30 anos. Essa contraprestação inclui o custo complementar com a infraestrutura, além de serviços como limpeza, vigilância e portaria.

Ao longo de 30 anos, a contraprestação mensal totaliza cerca de R$ 24,85 bilhões. Somando o aporte inicial e a contraprestação total, o custo total do projeto para o Estado de São Paulo ao longo de três décadas seria de aproximadamente R$ 27,85 bilhões.

A área construída prevista para o Centro Administrativo Campos Elíseos é de 250.000 m², projetada para abrigar cerca de 22 mil funcionários públicos. A metragem por funcionário, se considerarmos somente a área construída, seria de aproximadamente 11,36 m² por funcionário (250.000 m² / 22.000 funcionários). Essa metragem tem sido questionada por especialistas, que a consideram superdimensionada em relação às necessidades reais, mesmo com as recomendações de Neufert, que apontam para 6 m² por estação de trabalho.

A Cidade Administrativa de Minas Gerais: Custos e Experiências

A Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, em Minas Gerais, inaugurada em 2010, foi um projeto igualmente ambicioso e controverso. Projetada por Oscar Niemeyer, a obra teve um custo de construção que variou entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,8 bilhão.

Em relação aos custos de manutenção, a Cidade Administrativa de Minas Gerais tem apresentado valores significativos ao longo dos anos. Entre 2015 e 2018, o custo médio mensal de manutenção foi de R$ 9 milhões.

A área construída da Cidade Administrativa de Minas Gerais é de aproximadamente 265.000 m², com algumas fontes indicando 270.000 m² ou 200.000 m². O número de funcionários que trabalham no complexo também variou ao longo do tempo, com cerca de 17.100 servidores inicialmente, 15 mil em 2019, e 16 mil em 2020.

Comparativo de Gastos: São Paulo vs. Minas Gerais

Ao comparar os gastos dos dois centros administrativos, é fundamental considerar as diferenças de tempo, inflação e escopo dos projetos. No entanto, é possível extrair insights importantes:

O projeto paulista apresenta uma magnitude de custos bastante superior à do projeto mineiro, sem uma correlação direta com área construída ou quantidade de servidores. Ainda que modelos de financiamento distintos expliquem parcialmente essa diferença (PPP x obra direta), os números reforçam a necessidade de maior transparência nos estudos de viabilidade técnico-econômica do projeto paulista e de um controle rigoroso de custos, especialmente para justificar valores que, em vários indicadores, ultrapassam os de Minas Gerais em mais de 200%.

Custo de Construção

O custo de construção previsto para São Paulo é de R$ 5,435 bilhões, enquanto em Minas Gerais, corrigidos para 2025, os custos variam entre R$ 3,120 bilhões e R$ 4,320 bilhões. Comparando com o valor mais alto de Minas Gerais, São Paulo ainda apresenta um custo 25,8% superior. Em relação ao valor mais baixo, a diferença é ainda mais expressiva, chegando a 74,2%.

Diferença de SP 25,8% a 74,2% superior ao de MG

Aporte Inicial do Estado

São Paulo prevê um aporte direto de R$ 3 bilhões, enquanto Minas Gerais, por utilizar o modelo de obra pública direta, não operou com esse tipo de aporte por meio de parceria público-privada (PPP). Isso implica que, para Minas, o custo de construção foi suportado diretamente como despesa de capital, sem repasses mensais — o que reduz o impacto e o risco financeiro prolongado do projeto.

Contraprestação Mensal

No modelo paulista, está prevista uma contraprestação mensal de R$ 69,04 milhões, enquanto Minas, com base na média de custos operacionais entre 2015 e 2018 atualizada para 2025, apresenta um custo mensal estimado em R$ 13,32 milhões. A diferença entre essas duas despesas é de aproximadamente 418,3%, indicando que São Paulo terá um compromisso mensal cinco vezes maior.

Custo mensal de SP 5x mair que MG

Custo Total do Estado em 30 anos

A previsão de impacto total ao longo de 30 anos em São Paulo é de R$ 27,85 bilhões, já incluindo as contraprestações mensais. Em Minas Gerais, somando o custo de construção ao valor estimado de manutenção por 30 anos, o total varia entre R$ 7,91 bilhões e R$ 9,11 bilhões. Assim, São Paulo apresenta um custo global 206% a 252% maior que o de Minas Gerais.

Custo global de SP 206% a 252% superior ao de MG

Área Construída

A área construída estimada para São Paulo é de 250.000 m², enquanto Minas Gerais apresenta uma faixa entre 265.000 m² e 270.000 m². Ou seja, Minas Gerais possui entre 6% e 8% a mais de área construída, mesmo com custos inferiores.

Número de Funcionários

São Paulo prevê abrigar 22.000 servidores, enquanto Minas Gerais abriga entre 15.000 e 17.100. A diferença percentual varia de 28,9% a 46,7% a mais de servidores em São Paulo. Isso pode explicar parte da diferença de escala, porém não justifica, por si só, a magnitude das discrepâncias de custo, sobretudo porque a área física construída é ligeiramente menor em São Paulo.

Custo por metro quadrado (Construção)

Em São Paulo, o custo por metro quadrado de construção é de R$ 21.740, enquanto em Minas Gerais, corrigido para 2025, varia entre R$ 11.772 e R$ 16.000. A diferença, portanto, é de 35,9% a 84,7%, com São Paulo apresentando um custo significativamente maior por m².


É evidente que o projeto de São Paulo apresenta um custo total significativamente mais elevado do que o de Minas Gerais, mesmo considerando a inflação e a diferença de tempo entre as construções. A contraprestação mensal do projeto paulista, que se estende por 30 anos, representa um compromisso financeiro de longo prazo e de alto riscos, superando em muito os custos de manutenção da Cidade Administrativa mineira.

O comparativo levanta ainda mais questionamentos sobre a real economia e a vantajosidade em comparação inclusive com o modelo de gastos atuais de São Paulo. A experiência de Minas Gerais, que também enfrentou críticas severas sobre o custo da obra, serve como um alerta para a necessidade de uma análise rigorosa e transparente dos custos, riscos e reais benefícios a longo prazo.

Lições e Desafios Futuros

O comparativo entre os centros administrativos de São Paulo e Minas Gerais evidencia a complexidade e os desafios inerentes a projetos de grande porte no setor público. Ambos os empreendimentos, embora com propósitos semelhantes de centralização e otimização, apresentam custos distintos, gerando ainda mais dúvidas sobre a vantajosidade do projeto de São Paulo.

Assim, para São Paulo, permanece a obrigação de justificar um investimento que, em valores absolutos e proporcionais, parece ser substancialmente maior do que o de Minas Gerais. A transparência na apresentação dos custos, a clareza sobre a real necessidade da metragem proposta e a demonstração dos ganhos de eficiência que justifiquem o compromisso financeiro de longo prazo são cruciais para a aceitação e o sucesso do projeto. A experiência mineira, mesmo que controversa, apresenta números bastante inferiores aos de São Paulo. Seus custos de manutenção e a discussão sobre a real economia gerada, servem como um importante estudo de caso para o governo paulista.

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