Com a quebra recorde na safra, Brasil corre risco de desabastecimento de alimentos, gerando assim aumento considerável no preço dos alimentos ao consumidor.
A Aprosoja Brasil está preocupada com a queda dos preços da soja e do milho, combinada com os altos custos de produção e a redução da produtividade na safra atual. Diante disso, a entidade alerta os produtores sobre a importância de ter cautela e cuidado ao fechar negócios nos próximos meses.
A recomendação é para os produtores serem prudentes e evitem realizar vendas imediatas ou futuras, não se deixem pressionar pelas empresas a adiantar compras e não façam investimentos ou expansão de área.
Em particular, é aconselhável não comprar fertilizantes, cujos preços aumentaram nas últimas três safras e ainda não retornaram a níveis favoráveis para uma boa relação de troca. Essa recomendação também se aplica a sementes e defensivos.
Saca abaixo de 100 reais
Atualmente, os preços estão abaixo de 100 reais por saca, atingindo o patamar mais baixo dos últimos três anos.
Isso resultou em uma redução média de 33% na receita em comparação com a safra anterior. No início do plantio da safra 2023/2024, era possível obter algum lucro ou equilíbrio financeiro, desde que houvesse uma boa produtividade.
No entanto, devido às perdas causadas por fatores climáticos, muitos produtores já estão operando com margens negativas.
Um exemplo disso é o estado de Mato Grosso, onde um estudo do IMEA mostrou que, com uma cotação de 100 reais por saca e uma estimativa de produtividade de 50 sacas por hectare, a margem de lucro seria de 128 reais.
No entanto, na região de Sorriso, a cotação da soja está em torno de 94 reais, resultando em uma margem negativa de 122 reais por hectare.
Considerando que apenas 20% da safra nacional foi colhida até o momento e que os produtores ainda enfrentam altas incidências de doenças e problemas fisiológicos, juntamente com um prognóstico climático pouco animador, espera-se que as perdas na safra sejam ainda maiores.
No caso de Mato Grosso, a Aprosoja estima uma média de 49 sacas por hectare até o momento.
Com um consumo interno de 56,8 milhões de toneladas e a previsão de exportação de 98,4 milhões de toneladas, a situação dos estoques iniciais de 3,5 milhões de toneladas resultaria em um estoque final negativo de 2,8 milhões de toneladas, mesmo considerando uma importação de 600 mil toneladas de soja.
As estimativas de safra divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) continuam não refletindo a realidade das perdas, mesmo com a redução de 3,8% em relação à projeção anterior.
Safra 2023/2024
A estimativa da Conab de 149,5 milhões de toneladas de soja para a safra 2023/2024 está muito acima dos 135 milhões de toneladas estimados pela Aprosoja Brasil com base nos dados fornecidos pelos produtores associados.
O presidente da Aprosoja Brasil, Antonio Galvan, atribui essa diferença à metodologia adotada pela Conab e pelas consultorias privadas.
Ele ressalta que os métodos convencionais, como o uso de imagens de satélite ou análises visuais de campo, são eficientes quando as lavouras estão em uma situação de normalidade.
No entanto, a safra atual foi marcada por grandes irregularidades, o que torna esses métodos menos precisos para captar o verdadeiro impacto nas lavouras.
Galvan destaca que apenas o resultado da colheita reflete de forma mais precisa a situação real. Ele ressalta que os métodos tradicionais não conseguem identificar problemas em lavouras que parecem estar em boas condições visualmente, mas que apresentam problemas fisiológicos e anomalias no momento da colheita.
Diante desse cenário, a Conab projeta um aumento de 4,2% nas exportações de soja em relação à safra anterior, alcançando 98,4 milhões de toneladas.
No entanto, a Aprosoja Brasil alerta que as perdas na safra podem impactar significativamente essas estimativas, levando a um cenário de estoques finais negativos.
Fonte: Aprosoja Brasil