
No dia 10 de junho de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado ocorrida após as eleições de 2022. O interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, foi um momento crucial para o esclarecimento dos fatos e para a defesa do ex-presidente, que negou veementemente qualquer envolvimento em uma trama golpista. Este artigo detalha os principais pontos abordados durante o depoimento, o contexto em que ele ocorreu e as possíveis repercussões.
Contexto do Depoimento
O depoimento de Bolsonaro faz parte de uma investigação mais ampla que apura os eventos que culminaram nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes em Brasília foram invadidas e depredadas. A investigação determinará a responsabilidade de diversos atores, incluindo o ex-presidente, em uma suposta tentativa de subverter a ordem democrática e impedir a posse do presidente eleito. As acusações incluem incitação à violência, tentativa de golpe de Estado e associação criminosa. O depoimento de Bolsonaro era aguardado com grande expectativa, dada a sua posição central nas discussões políticas do período pós-eleitoral de 2022.
Principais Pontos do Depoimento
Durante o interrogatório, Jair Bolsonaro abordou diversos temas, buscando refutar as acusações e apresentar sua versão dos fatos. Os pontos mais relevantes de sua fala incluem:
Negação de Golpe e Ameaças
Bolsonaro negou categoricamente a existência de qualquer plano para um golpe de Estado. Ele afirmou que, em nenhum momento, sentiu-se ameaçado de prisão e que as Forças Armadas não aceitariam cumprir ordens ilegais. Essa declaração contraria depoimentos anteriores, como o do brigadeiro Baptista Jr., ex-comandante da Aeronáutica, que mencionou discussões sobre ruptura democrática em reuniões com o então presidente. Bolsonaro, no entanto, negou a existência de tal conversa, reforçando que as Forças Armadas atuam na legalidade.
Conversas sobre Alternativas Constitucionais
O ex-presidente admitiu ter tido reuniões com militares para discutir possíveis saídas na legalidade, especialmente após a rejeição de uma petição do Partido Liberal (PL) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que questionava a segurança das urnas eletrônicas. Ele descreveu essas conversas como
bastante informais, buscando verificar a existência de algum dispositivo constitucional que atingisse o objetivo não alcançado no TSE. Segundo ele, essa possibilidade foi descartada na segunda reunião.
Ausência de Clima para Golpe
Bolsonaro argumentou que não havia nenhuma viabilidade para um golpe de Estado, pois o ambiente político era de desmobilização. Ele afirmou que não existia uma base minimamente sólida para tal ação, indicando que as condições para uma ruptura institucional não estavam presentes.
Defesa do Voto Impresso e Críticas às Urnas
O ex-presidente reiterou suas críticas ao sistema eletrônico de votação, defendendo a adoção do voto impresso e citando modelos de países como Venezuela e Paraguai. Ele classificou o sistema brasileiro como “inauditável”, mantendo sua posição de longa data sobre a necessidade de maior transparência e segurança no processo eleitoral.
Pedido de Desculpas a Alexandre de Moraes
Um dos momentos notáveis do depoimento foi o pedido de desculpas de Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes. Questionado sobre insinuações passadas de que ministros estariam recebendo propina durante as eleições, Bolsonaro afirmou que se tratava de um “desabafo” sem provas e que não tinha a intenção de acusar os ministros de desvio de conduta. Ele negou a existência de quaisquer indícios que sustentassem tais alegações.
Minuta do Golpe
Bolsonaro negou qualquer responsabilidade sobre a chamada “minuta do golpe”, um documento encontrado com o ex-ministro da Justiça Anderson Torres que previa uma intervenção no TSE. Ele alegou que o texto foi apresentado superficialmente em uma televisão durante uma reunião, sem discussão aprofundada. O ex-presidente afirmou não ter escrito, alterado ou digitado nada no documento, e que a proposta foi imediatamente descartada. Essa versão contradiz o depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que afirmou que o ex-presidente teve acesso à minuta e sugeriu alterações.
Isolamento e Conversas com Militares
Após a derrota nas eleições, Bolsonaro relatou ter vivido um “vazio” e procurado generais para conversas amigáveis. Ele descreveu esses encontros como trocas informais de informações sobre a conjuntura política, preenchendo o que ele chamou de “vazio” pós-eleitoral.
Críticas aos Pedidos de AI-5
Bolsonaro classificou como “malucos” os apoiadores que solicitavam um novo AI-5 ou uma intervenção militar, afirmando que não estimulou manifestações ilegais. Ele destacou que as Forças Armadas jamais embarcariam em tais ideias e que ele próprio orientava as pessoas que exibiam placas de AI-5, questionando se elas sabiam realmente o significado do termo. O AI-5, de 1968, é um decreto do regime militar brasileiro.
Repercussões e Análise
O depoimento de Jair Bolsonaro ao STF em 10 de junho de 2025 foi um evento de grande relevância política e jurídica. A postura comedida do ex-presidente, em contraste com seu tom mais agressivo em outras ocasiões, foi notada por analistas. A negação de envolvimento em uma trama golpista e o pedido de desculpas a Alexandre de Moraes são pontos que podem influenciar o andamento do processo. No entanto, a contradição entre seu depoimento e o de Mauro Cid sobre a “minuta do golpe” adiciona complexidade ao caso. As investigações continuam, e o depoimento de Bolsonaro será um dos elementos a serem considerados pelo STF na tomada de decisões sobre o futuro da ação penal.