Como a inversão dos polos transformou a vida na Terra

Como a inversão dos Polos transformou a vida na Terra. Há aproximadamente 42 mil anos, a Terra passou por uma série de crises ambientais. Segundo um novo estudo, existe uma conexão entre esse fenômeno e a inversão dos polos magnéticos. Publicado na revista Science, o artigo é fruto do trabalho de uma equipe de 33 pesquisadores de diversas partes do mundo.

Reversão dos polos e seu impacto

Os cientistas associaram esse evento ao fenômeno conhecido como “Laschamp”, que durou menos de mil anos. Entretanto, nesse período, o campo magnético da Terra, que atua como um escudo contra partículas carregadas do Sol, foi significativamente enfraquecido. Essa redução na proteção, consequentemente, pode ter contribuído para extinções de mamíferos e mudanças climáticas drásticas.

Evidências em árvores Kauri

Para fundamentar suas descobertas, a equipe analisou seções de quatro árvores kauri (Agathis australis) em um pântano em Ngāwhā Springs, na Nova Zelândia. Contudo, em um dos troncos, datado de cerca de 41 mil anos, os pesquisadores encontraram sinais de carbono-14, uma forma radioativa do carbono, com uma idade de 1 mil e 700 anos. Essa evidência, portanto, é crucial para estabelecer a relação entre a reversão magnética e as mudanças climáticas.

Os cientistas acreditam que o aumento de raios cósmicos, resultante do enfraquecimento do campo magnético, elevou a quantidade de carbono-14 na atmosfera, que foi, assim, absorvido pelas árvores. Além disso, análises computacionais indicam que a entrada de mais partículas carregadas na atmosfera poderia aumentar a produção de óxidos de nitrogênio e hidrogênio, moléculas que degradam o ozônio.

Consequências ambientais

Essas alterações atmosféricas, por sua vez, podem ter causado uma absorção desigual da luz solar em diferentes regiões, desencadeando mudanças climáticas. Curiosamente, os efeitos mais intensos parecem ter ocorrido entre 42 mil e 300 anos e 41 mil e 600 anos atrás, antes do evento de reversão magnética. Durante esse período, o campo magnético da Terra tinha apenas 28% da força atual, caindo para 6% durante a transição.

Os pesquisadores chamaram essa fase de “Evento Geomagnético Transicional de Adams”, em homenagem ao autor Douglas Adams, conhecido por sua obra O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Nova perspectiva sobre a megafauna e os humanos

Para entender o impacto dessas mudanças nos seres vivos da época, a equipe comparou os dados do evento magnético com registros de núcleos de gelo que revelaram a atividade solar da época, a qual era mínima. Essa combinação de um campo magnético fraco e uma baixa influência solar, portanto, pode ter causado competições intensas entre a megafauna e os humanos, incluindo os neandertais.

Outro indicativo da redução da camada de ozônio é a presença abundante de pinturas rupestres feitas com o pigmento ocre vermelho. Esse material, possivelmente utilizado como protetor solar, sugere que os humanos buscavam abrigo nas cavernas para se proteger da intensa radiação solar.

Conclusões e perspectivas futuras

Os pesquisadores enfatizam que este é o primeiro estudo abrangente a investigar as consequências das mudanças nos campos magnéticos. Eles esperam, assim, que os avanços nas técnicas de datação e o estudo das árvores kauri na Nova Zelândia contribuam para futuras pesquisas, incluindo investigações sobre eventos magnéticos mais recentes, como o Mono Lake Excursion, que ocorreu há cerca de 34 mil anos.

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