Ataque da Ucrânia abala Rússia às vésperas de negociações

Ucrânia

O ataque da Ucrânia de longo alcance contra bases aéreas russas, ocorrido neste domingo (1), representa uma escalada sem precedentes no conflito que já dura três anos. A operação, descrita como a de maior alcance já realizada por Kiev, resultou na destruição de dezenas de aeronaves militares russas. Nas baixas, bombardeiros estratégicos, o que gerou ondas de choque em Moscou, tanto no âmbito militar quanto político, justamente quando representantes dos dois países se preparavam para uma nova rodada de negociações de paz em Istambul.

Detalhes da ousada operação de ataque da Ucrânia

O ataque da Ucrânia foi meticulosamente planejado e executado, segundo fontes do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU). Denominada “Operação Teia de Aranha”, a ação envolveu o uso de 117 drones FPV (visão em primeira pessoa), que foram secretamente transportados para território russo, possivelmente escondidos em contêineres de caminhão. Esses drones foram lançados das proximidades de bases aéreas estratégicas russas, atingindo alvos em cinco regiões distintas, incluindo locais na Sibéria, como a base de Belaia em Irkutsk, e na região ártica de Murmansk, na base de Olenia, que abriga aeronaves com capacidade nuclear. Fontes ucranianas afirmam que 41 aeronaves russas foram destruídas ou danificadas, incluindo bombardeiros Tu-95 e Tu-22, além de uma aeronave de reconhecimento A-50. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, celebrou a operação como “brilhante” e confirmou que foi a ação de maior alcance de seu país, atingindo alvos a mais de 4 mil quilômetros da fronteira. O custo estimado dos danos para a Rússia, segundo Kiev, ultrapassa os US$ 7 bilhões.

Repercussão e reações na Rússia

A resposta oficial russa ao ataque da Ucrânia foi imediata, classificando a ação como um “ato terrorista”. O Ministério da Defesa da Rússia confirmou os ataques em Murmansk e Irkutsk, admitindo que várias aeronaves “se incendiaram”, mas alegou ter repelido ataques em outras regiões como Ivanovo e Ryazan. Moscou também informou a prisão de vários suspeitos envolvidos e destacou que os drones foram lançados das proximidades das bases, sugerindo uma infiltração em seu território. Além disso, autoridades russas reportaram o colapso de duas pontes em regiões fronteiriças, também atribuídos a “atos de terrorismo”, sem, contudo, acusar diretamente a Ucrânia. Entre blogueiros militares russos e analistas, a repercussão foi de choque e crítica, apontando para falhas significativas nas defesas aéreas do país. Canais no Telegram, como o Fighterbomber, associado a um capitão do exército russo, descreveram o dia como “negro” para a aviação de longo alcance russa, evidenciando a humilhação e a preocupação geradas pelo sucesso da operação ucraniana.

Impacto nas negociações de paz

Este ataque da Ucrânia ocorre em um momento extremamente delicado, horas antes do início previsto de uma nova rodada de negociações diretas de paz em Istambul, mediada pela Turquia e incentivada por pressões internacionais, incluindo do governo americano. A escalada militar levanta sérias questões sobre a viabilidade e o futuro dessas conversas. Por um lado, a demonstração de força da Ucrânia, capaz de atingir alvos estratégicos no coração da Rússia, pode fortalecer sua posição negocial, reforçando suas demandas por um cessar-fogo incondicional, a retirada das tropas russas, reparações e a manutenção de sua capacidade militar. Por outro lado, a ação pode endurecer a posição russa, minando a confiança e fornecendo pretextos para Moscou intensificar suas próprias ofensivas ou abandonar o processo diplomático. O Kremlin, que ainda não havia apresentado suas propostas formais de paz, pode agora adotar uma postura ainda mais intransigente. A resposta russa no campo de batalha, com o lançamento recorde de 472 drones contra a Ucrânia e ataques a bases militares ucranianas que resultaram em baixas significativas, já indica uma retaliação e um possível acirramento do conflito, tornando o caminho para um acordo ainda mais incerto e complexo.

O futuro incerto do diálogo

Apesar da confirmação da presença das delegações de ambos os países em Istambul, o clima para o diálogo foi severamente abalado pelo ataque da Ucrânia. As demandas ucranianas, que incluem a não aceitação da soberania russa sobre territórios ocupados e o retorno à linha de frente atual como ponto de partida, já eram consideradas difíceis de serem aceitas por Moscou antes mesmo da recente escalada. Agora, com a humilhação militar sofrida e a pressão interna crescente, é improvável que Vladimir Putin demonstre flexibilidade. A Rússia, por sua vez, mantém suas exigências, como a renúncia da Ucrânia à OTAN. A intensificação dos combates, com a Rússia avançando em frentes como a região de Sumy e a Ucrânia demonstrando capacidade de retaliação profunda, cria um cenário onde a solução militar parece, para ambos os lados, mais tangível que a diplomática no curto prazo. O sucesso ou fracasso da rodada de negociações em Istambul dependerá da capacidade das partes de superarem a desconfiança mútua e a lógica da guerra, algo que o recente ataque da Ucrânia tornou ainda mais desafiador.

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